terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sinal dos tempos

Antigamente as mulheres viviam à sombra e às custas de seus pais e a responsabilidade por elas era transferida deste para seu esposo. Naquele tempo, mulher sem marido era solteirona, ficava pra titia. E "titia" era sinônimo de nada, ninguém. A "titia" não tinha vida própria, titia nem era parente, era aderente. E aderia à família de algum irmão ou alguma irmã para cuidar de seus filhos até que, bem velhinha, algum sobrinho-neto a adotasse ou, quem sabe, um asilo a esperasse.

Carreira não havia outra além de mãe-de-família e dona-de-casa, também romanticamente intitulada "a rainha do lar'. Mas tudo mera maquiagem pra uma situação subalterna, a diferença entre titias e rainhas do lar era apenas que as segundas tinham um marido. E isso fazia toda a diferença.

Ter um marido significava, entre outras coisas, que alguém tinha se dignado a dar a ela um segundo olhar, que a "elegera" para constituir com ela uma família nos sagrados moldes que impunha a sociedade.

Se uma dessas rainhas do lar por acaso se separasse do marido, tornava-se então escória da sociedade, era evitada e sua casa não poderia jamais ser frequentada pelas "moças de bem".

Mudou a sociedade, mudaram as regras, hoje as mulheres nos bancos das universidades e cursos profissionalizantes são maioria. Eu própria tenho mais alunas que alunos, a cada ano mais e mais as mulheres disputam palmo a palmo com os homens o restrito e competitivo mercado de trabalho, e com isso ganham o direito de sonhar, realizar, sustentar-se.

Há entretanto alguns casos que não sei como podem acontecer nos dias de hoje, depois de tanta luta das mulheres por direito a uma carreira e ao respeito por suas opções, vejo muitas mulheres que se dizem casadas, agarradas à essa condição como se, como as mulheres de outrora, corressem o risco de tornarem-se madalenas apedrejadas por romper o sagrado vínculo do matrimônio.

Conheço mulheres - e infelizmente não uma nem duas - que se debatem num relacionamento que poderia ser classificado como sofrível (pra ser benevolente) e que não arredam pé, sabe-se lá por que cargas dágua.

Tenho amigas, e não são essas mulheres pessoas limitadas e sem horizontes, algumas são até bem talentosas e cheias de recursos, que suportam maridos que as traem abertamente, têm filhos com outras mulheres, que ainda se dão ao desfrute de virem à porta de suas casas bater boca e reclamar direitos e elas aguentam caladas.

Mulheres que têm sucesso profissional e aceitam sustentar maridos que por qualquer pretexto se encostam e se mostram desde o início avessos ao trabalho e ao sustento do lar. Outras que tornam-se sacos de pancadas nas mãos de homens violentos e frustrados que nelas descontam todas as suas frustrações. E algumas outras que toleram homens que as tratam pouca coisa melhor que um capacho. E eu me pergunto: por quê?

Por quê se sujeitam essas mulheres a viver debaixo do mesmo teto que esses seres que não lhes dão nenhum valor? Será que pensam, à exemplo de nossas ancestrais, que se não tiverem um marido não serão ninguém? Será que acham que sempre é melhor ser a "Senhora Fulano de Tal"? Pensarão essas mulheres realmente que precisam nos dias de hoje de um homem que as ampare e que lhes dê um nome? E a que custo?

Por meu lado não tive dúvidas, sempre que um relacionamento não foi satisfatório não tive problemas em desvencilhar-me dele. Creio que fazendo isso, não só estava me libertando de algo que me fazia infeliz como também abrindo para mim mesma as portas de um novo relacionamento, que poderia ser aquele que realmente me realizaria como mulher. E assim foi.

Espero que um dia nossas amigas que se debatem em relacionamentos ruins, com medo de retomar sua vida em suas próprias mãos, que olhem em volta e vejam se realmente isso tudo vale a pena. E sobretudo que se lembrem de que outra vida depois dessa pode ser uma crença, mas não é uma garantia, portanto não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar essa aqui sendo absoluta, completa e totalmente infelizes.

(por Zailda Mendes)

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