domingo, 25 de maio de 2008

Reações à traição

Ela está em frente à TV. Ele chega, deposita a chave do carro na mesinha e vai para o quarto. Ela desliga a TV e vai atrás.

- Escuta aqui, Luiz Henrique, quero saber o que está acontecendo. Isso são horas?

- Já te falei, minha filha. Tive reunião até tarde. Você sabe como são essas coisas, já devia estar acostumada.

- Reunião até essa hora? Vê se está escrito "idiota" aqui na minha testa! Estou de olho em você já faz tempo! Você anda mudado e cada dia chega mais tarde. O que está acontecendo?

Luiz Henrique fica uns minutos fitando o espaço, como a se decidir, depois começa, em voz baixa:

- Olha, eu adoro você e as crianças... mas você tem razão... conheci uma moça no escritório...

Ela ouve embasbacada, senta-se na cama para ouvir a confissão provocada pela súbita dor na consciência do marido.

- No começo era apenas uma brincadeira... nunca olhei para outra mulher depois que me casei... mas você também mudou, não me dá mais atenção... sexo só uma vez por mês e olhe lá...

As frases dele vão se sucedendo, vai criando coragem e contando tudo, ela fica pasma, como não percebera antes?

- Mas e agora, Luiz Henrique? E você não pensou em mim e nas crianças? Como vai ser daqui pra frente?

- Olha, reconheço que errei, mas sou homem, você sabe: a carne é fraca, ela estava ali, tão próxima, não pude evitar...

Ela toma coragem para a pergunta crucial:

- Mas você está apaixonado por ela?

- Não, claro que não... já te disse, foi uma fraqueza. Me perdoe... você sabe que é você que eu amo...

Ela não consegue conter as lágrimas, atira-se nos braços dele.

- Ah, Luiz Henrique, eu te amo! Jura que não vai acontecer de novo e passamos uma borracha nisso tudo. Juro que será tudo diferente daqui pra frente.

Eles ficam abraçados, ela chorando de mansinho, ele alisando os cabelos dela. Sim, daqui pra frente tudo vai mudar.

...

Ele entra na sala, ela está ao telefone, de costas para a porta. Assim que pressente sua chegada, desliga o aparelho.

- Maria Cecília, assim não dá! Você pensa que eu sou idiota?

Segura-a pelo ombro e faz com que se vire para encará-lo.

- Está escrito na sua cara que anda aprontando! Não é de hoje que acontecem esses telefonemas misteriosos.

Ela está trêmula e choraminga:

- Ai, já faz tempo que quero falar com você... não foi minha culpa... você não me dá mais atenção...

- O quê? Quer dizer que você confirma essa safadeza?

- Ah, me desculpe... eu fico tão sozinha... começamos a conversar, quando eu vi já não havia mais jeito de parar...

- Parar o quê? Quer dizer que está me corneando mesmo?

- Não é bem assim, ele me ouve, acho que estou apaixonada...

- Apaixonada? Você não é mais criança pra ficar com essas bobagens! Quero saber tudo, tintim por tintim!

- Olha, eu juro que não aconteceu nada de mais. Acho que estou carente, é isso...

- Peraí. Quer me dizer então que não chegaram às vias do fato? Que vocês não transaram?

- Não, não... juro que não. Nunca outro homem me tocou depois de você.

- Bem, se é assim... Ainda podemos tentar consertar... Mas a partir de hoje a senhora vai ter que andar na linha, nada dessas bobagens românticas.

- Juro que não vai acontecer novamente... Foi uma bobagem, um momento de fraqueza...

- É bom mesmo, dessa vez passa. E se eu te encontrar de novo nesse telefone vou querer saber quem é e qual a finalidade dessa ligação.

Ela choraminga e funga:

- Tá bom, já disse que não vai acontecer mais. Acabou, pronto!

- E nada de usar o cartão de crédito até segunda ordem!

O marido pega o paletó e encaminha-se para a porta.

- Vou sair um pouco, esfriar a cabeça, não sei a que horas volto.

Quando ele sai Maria Cecília senta-se no sofá e cai em profunda meditação.

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