domingo, 23 de março de 2008

Frases das revistas femininas das décadas de 50 e 60

  • Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto, sem questioná-lo. (Revista Claudia, 1962).
  • A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1965).
  • A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas. (Jornal das Moças, 1959).
  • Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Moças, 1957).
  • Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças,1957).
  • O noivado longo é um perigo, mas nunca sugira o matrimônio. ELE é quem decide sempre! (Revista Querida, 1953).
  • Sempre que o homem sair com os amigos e voltar tarde da noite espere-o linda, cheirosa e dócil. (Jornal das Moças, 1958).
  • É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957).
  • O lugar de mulher é no lar. (Revista Querida, 1955).

Meu comentário (claro que eu não ia agëntar ficar de boca fechada):

Ora bolas, ainda bem que ninguém mais lê essas baboseiras! Que lavagem cerebral, hein? Acho que ainda hoje há muitos homens que lendo isso suspiram com um ar de saudosismo. Acreditem, muitos deles ainda pensam assim!

Educada em colégio de freiras, ouvi coisas assim por anos a fio. Se você quisesse "ter a honra" de possuir um marido, tinha que se sujeitar, ou então o que nos esperava era o pior, o mal de todos os males: ficar pra titia, morrer virgem, virar uma "solteirona".

De forma disfarçada muita coisa ainda persiste mas posto isso aqui mais a título de curiosidade e pra fazer graça que pra discutir sériamente o assunto. Afinal, nem dá pra falar nada, né?

(zailda mendes)

terça-feira, 11 de março de 2008

De que adianta ser GATA se só aparece CACHORRO que só gosta de GALINHA?

Esse é o eterno drama, homem só gosta mesmo de galinhar... Como é que a gente fica quando o homem da gente só gosta mesmo de "variar" - no mau sentido? Porque variar no bom sentido é legal, variar de posição, de jeito, etc... rsss Mas será que precisa mesmo variar de MULHER? E cada uma que eles arrumam que se eu fosse homem acho que preferia o celibato ou então virar gay... Como é que a gente faz se o cara só gosta mesmo das TORTAS, das PERVAS? A gente entorta também? rsss

Olha, mulherada, nada sério não, vamos tratar o assunto com bom humor, vamos rir da tragédia (?), já que chorar não adianta mesmo. Vocês juram que dão o pé na bunda do marido, noivo, namorado, se descobrirem que eles andam "costurando pra fora" com uma daquelas bem biscate mesmo?

Como dizia meu (falecido) tio (que Deus o tenha em sua infinita glória): "Quando eu ficar velho quero uma BENGALINHA"... falou e disse tudo, tio! É o que todos querem... (será?) Mas por quê, hein?????

(escrito por Zailda Mendes)

Eu e minha boca grande

Já te aconteceu de dar um fora daqueles, mas daqueles bem fora mesmo, daqueles que a gente depois não sabe como consertar? E vai explicar depois, que não é bem isso que a gente quer dizer...

Eu já disse aqui que falo demais, e segundo minha saudosa avó, quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Pois é, dá bom-dia, boa-tarde, boa-noite... Mais de uma vez eu disse coisas que depois não tinha como consertar. E fora é coisa do capeta, se você tenta consertar aí é que fica feio mesmo. E normalmente nascem daquelas conversas que nem tem razão de ser, perfeitamente dispensáveis.

O fora mais antigo que consigo me lembrar, que deve ter se dado logo no início de minha carreira de "forista", foi na quinta série. Estávamos eu e uma colega de escola, enorme ela por sinal, muito maior que todas da minha classe, um verdadeiro monstro, sentadas no banco de reserva na hora da Educação Física, assistíamos ao jogo, quando o seguinte diálogo se passou:

- Jogam bem as meninas, né?

Como ela nunca me dera bola, apressei-me a concordar, claro que jogavam muito bem sim.

- E o que você acha da Marisa?

Naturalmente queria saber das qualidades técnicas da garota, mas a tonta aqui que tava com a tal Marisa atravessada (a guria não me passava) e com a santa honestidade que Deus me deu (em má hora, diga-se de passagem):

- Ah, uma vagabunda!

E ante os olhos atônitos da colega dois-metros-maior-que-eu-tanto-em-altura-como-em-largura, fui desfiando o que eu realmente achava da dita cuja. Infelizmente, empolgada com a descrição das "qualidades" da mencionada jogadora, nem percebi os olhos dela, esbugalhados de espanto.

Quando acabei de falar ela, lívida, me explicou:

- Marisa é minha sobrinha, sou irmã caçula da mãe dela. E me espere na saída da escola.

Fiquei ali, atarantada, perguntando que mal eu fiz pra Deus, imaginando alguma doença, qualquer coisa que pudesse ser forjada a fim de ir embora mais cedo pra casa, adiando assim o tal encontro "na saída da escola".

Bem, não deu. Na saída a tal colega me esperava com seu uniforme que mais parecia uma barraca de camping de tão grande que ela era e uma cara de botar medo aos capetas no inferno.

Surra? Claro que levei, e das boas, e mais ainda teria apanhado se não tivesse aproveitado um momento de hesitação dela (foi tomar fôlego pra me bater mais ainda) e seu tamanho avantajado e não tivesse escapado passando por debaixo das pernas dela. E corri, hein? Meu Deus, como eu corri...

Depois desse, dei muitos outros foras, de maior ou menor gravidade, claro que com consequências (físicas, pelo menos) menores e menos doloridas. Mas eu não sou a campeã, tenho uma amiga que se poderia chamar de "Rainha dos Foras". E não se emenda, dá um atrás do outro.

Há uns anos, na Festa do Peão da minha cidade, ocasião em que todas as entidades armam lá sua barraca pra vender alguma coisa e arrecadar fundos, essa prezada amiga dançou e bebeu a noite toda, lá pelas tantas, já meio "alegre", chegou numa dessas barracas, bateu com a mão na mesa e exclamou, em alto e bom som:

- Quero uma cerveja, mas que seja uma cerveja bem gelada, de cerveja quente eu já to cheia!

Todos nas mesas vizinhas pararam com seus copos no ar, olhando-a. Ela não entendeu nada até que se aproximou dela uma mocinha, e em voz mais ou menos baixa lhe disse:

- Moça, aqui é a barraca da Liga Anti-alcoólica. Só temos refrigerante. A senhora não quer uma Coca-cola?

Ela não queria. Saiu de lá aos trambolhões, procurando um buraco pra se enterrar.

(escrito por Zailda Mendes)

Como passar um dia agradável em frente à TV, se você é mulher

Um feriado prolongado me pegou de surpresa outro dia com uma tarde inteirinha sem nada pra fazer. Fato raro, imaginei logo algo de interessante pra passar o tempo e liguei a "máquina de fazer doido", como bem já definia a tia Zulmira, do Stanislaw Ponte Preta.

Dei de cara com um programa dirigido provavelmente a mulheres masoquistas. Horrorizada assisti durante quase meia hora às mais bárbaras e desumanas torturas a que uma mulher pode se submeter pra ficar em forma. Gente, se Hitler tivesse televisão com certeza os judeus teriam sofrido muito mais em suas mãos. Corri pra mudar logo de canal tão logo a visão aterrorizante de mulheres gordas e cheias de celulite se acabando de tomar choques em tudo quanto era lugar tornou-se insuportável.

O programa seguinte falava sobre culinária e isso aliado a todas as dietas e exercícios torturantes que eu assistira boquiaberta me fez abrir ainda mais a boca e buscar algo pra comer na minha cozinha. Com sentimento de culpa que só  as mulheres poderão entender, o mesmo que nos aflige cada vez que comemos um bombom escondido (como se comer escondido não engordasse...) acompanhei atenta às mais loucas misturas de ingredientes tão estranhos quanto os que faziam parte das receitas mirabolantes dos alquimistas de outrora. Desanimada com minha santa ignorância troquei novamente de canal.

Uma mulher calma e bonita dirigia o próximo programa, mas o que é bom dura pouco, logo descobri que o tal programa era a mais deslavada baixaria. Faziam aquilo que antigamente chamávamos de "lavar roupa suja" ali, bem debaixo do meu nariz. Mães espinafravam os filhos, maridos diziam com todas as letras porque a amante era bem melhor que a mulher, um verdadeiro circo de horrores. E eu fiquei me perguntando o que leva um ser humano a se expor assim na TV.

Já deprimida, continuei passando os canais até que encontrei um repórter que contava os capítulos de novelas que nunca vi. Não entendi nada. Não sei se meu QI emperrou, mas aquilo tudo que ele contava me parecia uma barafunda confusa de nomes e situações mirabolantes que jamais em tempo algum poderiam acontecer. Se Shakespeare tivesse TV teria imaginado algo bem menos prosaico que veneno pra Romeu e Julieta... Quem sabe? Talvez ele sofresse de falta de imaginação...

Dei à TV todas as chances que minha paciência permitiu mas no final das contas descobri uma maneira ótima de passar uma agradável tarde em frente a ela: botei os pés na poltrona, coloquei um CD pra tocar e simplesmente deixei-a desligada. Tive uma tarde agradabilíssima. Tente você também, qualquer dia destes.

(escrito por Zailda Mendes)

O que se esconde por trás dos contos infantis

Vejo muitos pais reclamando da televisão, dizem que há muita violência nos programas infantis de modo geral e que isso influencia negativamente seus filhos. Não entro no mérito da questão, deixo a discussão pros especialistas da área, mas pertenço a uma geração que também sofreu com a violência (implícita) nas famosas histórias infantis. Senão, vejamos:

Chapéuzinho Vermelho - não é só o caso da violência, mas também um caso clássico de sexo implícito. Eu disse implícito? Porca miséria, a menina é seguida pelo Lobo, que tem todas as mumunhas e o papo de um autêntico tarado (pra ser moderninha, um pedófilo), olha que chique, a gente ouvia apavorada a história de um lobo pedófilo que depois comia a vovózinha. Que coisa! E depois ainda chegava um lenhador não se sabe de onde e ABRIA A BARRIGA DO LOBO e a diaba da avó (uma bruxa, por certo) saía de lá vivinha da silva! E a gente era obrigada a ouvir esse terror todo ANTES DE DORMIR. E quem vai lá conseguir pegar no sono depois de uma carnificina destas?

Rapunzel - beleza de exemplo, dava umas idéias pra lá de tortas, e isso logo antes de dormir! Se a Rapunzel que estava numa torre danada de alta deu seus pulos (deixou crescer um cabelão danado) pra que o namorado pulasse a janela e passasse a noite ali com ela, a gente nem precisava ser tão criativa, já que nossa janela possivelmente era bem mais baixinha!

Joãozinho e Maria - arre, que coisa mais descabida, largar duas pobres crianças num bosque, ainda por cima o irmãozinho era retardado, jogando migalhas de pão pra marcar o caminho! E depois a bruxa os prende pra engordá-los, a Maria, menina boazinha que só ela, me empurra a pobre da velha em um caldeirão de água fervente! Uma cena destas antes de dormir deve causar cada trauma que nem o Freud explica!

Sereiazinha - já começa mal, a coitada tem que cortar a língua (deus me livre!) em troca de um belo par de pernas pra encantar um príncipe (e tome fetichismo!) mas como a jogada dá errado, ela se atira no mar! Suicídio por amor tá liberado pra criança de (digamos) seis anos? E depois iam dormir, achando que a gente estava mais calminho agora, que ia pegar no sono logo. Não admirava se a cama amanhecesse toda molhada! Vai botar medo assim em outro!

Branca de Neve - essa era uma pervertida, dormia com sete anões. E tinham que ser anões, que que era isso, algum tipo de tara? E logo sete? Devia ser uma suruba daquelas, à noite voava pena pra tudo que era lado, pois não era? Olha só que pouca-vergonha ensinavam, e a gente ainda ia dormir com isso na cabeça, imagens de um bacanal na floresta em que uma princesa tarada dormia com 7 anões. Claro, depois dava uma de sonsa com o coitado do (corno) do príncipe, pra ele era só um beijinho casto de nada... garanto que ia fingir que era virgem...

E apareceram uns desenhos pra lá de entortantes também pra nossa nem suspeitada sexualidade. O Batman e o Robin eram um casal? O Superboy era bicha? Perguntas que rodavam em nossa cabeça e nos torturavam numa incerteza capaz de levar uma pessoa à loucura...

E os Smurfs? Imagina: o Gargamel toma um "chá de cogumelo" e depois começa a ver uns homenzinhos azuis que ninguém mais vê. Claro, se fosse LSD ninguém mais ia ver também...

Agora pensa comigo: você acha realmente que a influência da TV hoje pode ser pior que esse massacre que as gerações anteriores sofreram? Será que esses inocentes desenhos têm mesmo o poder de entortar algo que tenha sido direito até agora?

Quanto a esse emburrecimento paulatino que vemos em programas que têm uma mulher bonita e muito burra falando asneiras e jogando o cabelo de um lado pra outro nem falo nada. Que são bonitas todos concordamos, mas quem foi a anta que permitiu que elas falassem? E ainda por cima DURANTE O PROGRAMA? Erro imperdoável, tinham que tirar o microfone, nossos ouvidos agradeceriam e nossas crianças não sofreriam essa "violência".

Agora já imaginou, minha amiga, se tua filha um dia chega pra você e diz: "mãe, quando eu crescer quero ser igualzinha à Carla Perez" que é que você vai fazer? Já pensou que desgosto? A gente faz tudo por uma filha e depois dá nisso, ter que ouvir uma coisa dessas... Quando a coisa chega nesse ponto, sinto muito mas nem psiquiatra dá mais jeito! Caso grave, de internação, aí quem sabe?

(escrito por Zailda Mendes)

Nessa vida tudo é passageiro, menos o motorista e o cobrador

Estou aqui, quase de malas prontas, indo de mala e cuia pra uma outra vida que me espera. Como será? Que me aguarda nessa nova fase?

A expectativa é grande, vou rumo a uma nova existência, mas levo muito do que aprendi aqui, 21 anos nessa pequena cidade do interior que me acolheu quando cheguei, cansada do movimento da cidade grande, pra onde volto agora.

Fiz amigos, tive amantes, amores, muita coisa levo comigo mas também deixo muita coisa pra trás. Deixo as experiências desagradáveis que me fariam desacreditar no ser humano, deixo as mesquinharias, as coisas pequenas que não acrescentam nada a ninguém. Deixo as mágoas, a raiva, o ódio e o rancor. Nada disso quero na minha bagagem. Quero uma vida nova, onde eu confie nas outras pessoas como uma criança confia no que lhe dizem os adultos; onde eu tenha muita esperança como os jovens tem quanto ao seu futuro; quero muita força pra lutar como os adultos tem pra enfrentar as dificuldades; quero muita paciência como os idosos aprendem a ter com o decorrer da idade.

Quero um mundo melhor, uma vida melhor, quero também ser uma pessoa melhor. Vou olhar pra todos os erros que cometi aqui e tentar não repetí-los daqui pra frente. Indo pra lá, não quero olhar apenas pro futuro, quero também olhar pro passado, ver tudo que fui aqui e tentar não cair nas mesmas armadilhas, errar da mesma forma.

Crescer talvez signifique cometer erros novos, porque ninguém é perfeito, ou cometer os mesmos de forma diferente, sei lá. Mas as mudanças sempre são boas. Estou deixando muita coisa pra trás, pra viver muitas outras. Porque na vida tudo é passageiro. Claro: menos o motorista e o cobrador.

(escrito por Zailda Mendes)

Quem é que não gosta?

Quem é que não gosta de se arrumar pra uma festa e, ao dar uma última olhadela no espelho antes de sair, sentir que está tudo em cima, arrasante, vestida pra matar?

E quem é que não gosta de chegar na tal festa e sentir o olhar de admiração dos homens e o de inveja das mulheres?

E depois, quem é que não gosta de ver um gato lindo, todo sarado, do outro lado da sala, que não tira os olhos da gente, acompanhando todos nossos movimentos, deixando a gente até meio assim como que encabulada?

E quem é que não fica com o coração aos pulos vendo o gataço atravessar a sala toda, desviando de uma dezena de outras mulheres (que o olham babando) até chegar bem pertinho e dizer um simpático "oi"?

E quem é que não curte ir pra um cantinho com o gato que você nem ouviu direito o nome de tanta emoção de apertar aquela mão musculosa, olhando dentro daqueles olhos profundos que fitavam os seus?

E quem é que não fica tonta quando descobre que o gato é além de tudo simpático e inteligente? E que tem muito em comum com você?

E quem não adora passar a noite dançando com o gato, já imaginando o que virá depois, quase rezando pra festa acabar logo e ele pedir pra te levar?

É, mas não dá um ódio danado quando o gataço moreno vira pra você no fim da festa e diz: "Olha, foi um prazer te conhecer, mas agora preciso ir, porque MEU NAMORADO está me esperando?

(escrito por Zailda Mendes)

Maria Rosa

Quando dava aulas em Junqueiróplis até tarde da noite, tomava o último ônibus pra Pacaembu e quando chegava à Rodoviária de Junqueira sempre encontrava a Maria Rosa. Já escrevi algo sobre ela aqui, ela é uma louca de internar, dizem que ficou doida de tanto estudar (meus alunos adoram essa parte da história), mas o mais interessante da Maria Rosa é que o início das conversas dela é bem legalzinho, a coisa vai indo até mais ou menos e o interlocutor demora um pouco a dar pela coisa, porque do meio pro fim é que o papo da Maria Rosa desanda e aí a gente já percebe logo que o caso é grave, mas aí já é tarde, já foi laçado pelo charme da loucura da Maria Rosa.

- Menina, acredita que eu peguei meu marido com outra?

Essa é uma frase de efeito pra pegar os incautos, como eu mesma já fui, porque a Maria Rosa é solteira. Quem ela chama de "marido" é um médico de Junqueira, por sinal muito bonito. (É o que dizem, porque não o conheço, mas isso mostra que a Maria Rosa pode ser doida, mas de boba não tem nada.)

- Eu já ia avançando em cima dos dois, mas sabe o que ele me falou? Ataca ela, vendo que eu não esboçara reação à pergunta anterior.

- Que foi que ele disse? Arrisco-me a perguntar. Doido é aquele negócio, a gente nunca sabe... melhor não contrariar...

- Não liga não, querida. Não tá vendo que essa outra é você mesma?

Como eu disse, a conversa começa bem mas no final desanda mesmo. Bem amigos casados, quando forem pegos em flagrante, taí uma desculpa no mínimo original, e pode dar certo, dependendo do grau de loucura de sua esposa, ou da vontade que ela sinta de acreditar. Quando a vontade de acreditar é muita, qualquer desculpa serve, até essa...

Outro dia começou a dizer capitais, tudo certinho, como manda o figurino. Mas depois cansou-se, decidiu que fechando os olhos e pulando num pé só conseguiria viajar até o país que quisesse. E queria que eu fosse junto. E eu me debatia, entre o medo de contrariar a doida e pagar esse mico, pulando num pé só de capital em capital, e nada de meu ônibus chegar.

- Com esse pulo cheguei aos Estados Unidos. Já estou vendo a Estátua da Liberdade! Venha, não tenha medo!

Eu me debatia olhando desesperada se o ônibus não vinha, já estava vendo a hora de me lançar nesse turismo esquizofrênico. E a Maria Rosa já chegava na Itália, já via a Torre de Pizza (ou o Coliseu, já nem me lembro), quando eis que chega meu ônibus e eu me precipito porta adentro e escadas acima numa carreira pouco comum àquela hora da noite, pois o motorista me olhou surpreso.

Ofegante, mãos na garganta, me viro apontando debilmente:

- Ela... ela é louca...

O motorista me olha com ar de dúvida e percebo que me vigia durante toda a viagem a Pacaembu através do espelho retrovisor, com ar preocupado e imagino ter percebido um suspiro de alívio quando finalmente desci em minha cidade.

Bem, mas isso não importa. Às vezes quando saio da escola aqui em Diadema e vou pra casa, sinto saudade dos papos doidos com a Maria Rosa, que me divertiam ou me apavoravam, com seus diálogos desandados, mistos de cultura e loucura, suas frases repletas de proparoxítonas... talvez tivesse sido bom viajar aquela noite com a Maria Rosa... quem sabe?

(escrito por Zailda Mendes)

Baixaria em frente à padaria

Domingo à tarde, clima legal, to atravessando calmamente a faixa de pedestres em frente à padaria, já imaginando o gosto do suco de laranja que vou tomar, já estou bem na metade, quando, olhando pra baixo vejo um carro quase colado á minha perna. Páro, incrédula, levanto a cabeça e olho o sinal à minha frente: verde pra mim. Olho então pro energúmeno que dirige o veículo que subitamente invadiu a faixa indo em minha direção. Ele ri, o retardado. Aliás, são 5 retardados dentro do veículo. Os cinco mostram os dentes com cara de idiotas. Grande feito! Ainda parada faço de um gesto de não-entendimento e pergunto:

- Que foi, palhaço?

O palhaço continua rindo feito besta. Perco a paciência, faço o clássico gesto com o dedo do meio e continuo na faixa, em direção á calçada. O gesto parece ter chacoalhado seus neurônios, o animal reage, bota os cornos pra fora da janela e vocifera:

- Quer morrer virgem?

Já estou com muita raiva, por isso vou logo botando a mãe do cara no meio, pois sei que quanto mais machista, mais idiota, mais preservam a figura materna:

- Sou mais arrombada que tua mãe, idiota!

Ah, aí o chimpanzé vira um gorila, mal eu piso na calçada ele já encosta no meio-fio e berra:

- O, piranha!

Viro-me com toda a educação que Deus me deu e berro a plenos pulmões (já na porta da padaria):

- Piranha o c-r-lh-!!! Cara que enche o carro de macho no domingo pra fazer gracinha no trânsito é boiola ou broxa! Tu é o que, o palhaço?

Ele até ia responder, ou pedir ajuda aos universitários, sei lá, mas o fato é que havia uns 3 ou 4 "manos" na frente da padaria, sabe, esses skatistas, e eles adoraram a história, começaram a rir e aplaudiram:

- É isso aí, "tia"!

Entrei na padaria enquanto o palhaço, idiota, retardado saía cantando pneu. E eu me perguntava: por que todo impotente, incompetente, imbecil, complexado, no sexo, tem que querer compensar isso detrás de um volante?

Se o cara tivesse mulher, ou mesmo uma piranha, como me chamou, pra passar o domingo, tenho certeza que ele não veria graça em ficar tentando atropelar pedestres incautos que atravessam confiantes na faixa de pedestres.

Também não sei porque dão carteira de habilitação a estes tipos. Apenas seres humanos deveriam ser habilitados, as outras classes animalescas, principalmente as quadrúpedes deveriam se contentar em puxar carroça... e bem longe do centro da cidade!

(escrito por Zailda Mendes)

sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher

Hoje é comemorado mundialmente o "Dia Internacional da Mulher", e eu me pergunto: e daí? Como estamos em ano bissexto, será que isso significa que temos um dia pra nós e os outros 365 dias de 2008 são deles? Ah, mas aquelas que já tiveram filhos têm também o "Dia das Mães", dia de acordar cedo pra cozinhar algo especial pra família e ganhar algum presente pra usar no cuidado da casa ou pra fazer comida especial pra família.

Àquelas que ainda não tiveram seus rebentos resta apenas receber uma flor ou um cartão se por acaso entrarem em algum banco ou mesmo no trabalho. As que ficam em casa, sinto muito, duvido que seus queridos maridos sequer se lembrem de cumprimentá-las pelo dia de origem e finalidades duvidosas.

Claro, acho louvável a idéia de ter um dia dedicado a nós, pelo menos um que sirva talvez para lembrar a governantes e políticos, professores e maridos, patrões e subalternos de que estamos aqui, que também somos "portadoras de necessidades especiais", a saber:

  • que temos direito a igual remuneração que qualquer homem que desempenhe as mesmas funções;
  • que queremos ser lembradas todos os dias e não só no dia de hoje;
  • que flores não mascaram o fato de que ainda somos tratadas em muitos casos como mero objeto de decoração;
  • que somos consideradas por uma grande parcela da sociedade como um ser um pouco mais atuante que qualquer animal de estimação e com mais ou menos o mesmo quociente de inteligência;
  • que muitos maridos e namorados ainda acham que "ter uma mulher" é apenas uma questão de necessidade (precisam comer e ter as roupas lavadas regularmente;
  • que muitas de nós ainda se sujeitam a ser tratadas com desrespeito e violência por não saberem a quem recorrer e não terem meios próprios de subsistência;
  • que um grande número de maridos ainda acha que ter uma boa mulher é apenas um caso de bom adestramento (tipo traga o jornal, leva isso aqui, faz esse menino parar de chorar) e ainda esperam que depois que realizemos o "truque" que fomos condicionadas a fazer ainda rolemos pelo chão a abanemos o rabinho;
  • que há filhos (principalmente os homens) que acham que ser mãe é padecer num paraíso, então enquanto padecemos não custa nada fazer uma bainha no seu jeans novo;
  • que há alguns chefes que se valem de sua posição de superior hierárquico para nos pressionar para conseguir "favores especiais" que certamente suas esposas não aprovariam;
  • e que - finalmente - algumas de nós, traidoras da própria classe ainda educam seus filhos para subjugar outras mulheres.

Depois de lembrar tudo isso, o que é mesmo que estamos comemorando hoje?

(zailda mendes)